domingo, 29 de maio de 2011

Capítulo tal

Há quatro anos e dois dias eu começava aqui a fazer algo que me acompanhou a todo momento nos últimos quatro anos e dois dias. Que tinha algum talento redatório, não tinha dúvidas. Sabia disso desde as redações da escola, passando pelas redações do colégio, as redações do cursinho e enfim, a redação do vestibular. Essa última teve um gostinho especial já que através dela pude ingressar em meia década de tudo: frustrações, elogios, álcool, grandes amizades, algumas inimizades, decepções e algum aprendizado. Mas questões pessoais me afastaram do ímpeto de sair espalhando o que eu acho por aí. Perdi o gosto em escrever por escrever e foi melhor assim. Hoje renasço (renasço e redatório são duas palavras que prometo nunca mais utilizar em qualquer texto ao longo da minha vida e essa era uma nota mental que precisa ser anotada para que não caia no esquecimento) de uma forma muito mais equilibrada para esse universo. Acredito que não sou tão bom quanto achava que era, mas acredito em um potencial que tem tudo para ser desenvolvido até o dia que morrer ou ser diagnosticado com Alzheimer. O que vier primeiro. Não que eu seja o “garoto Neymar”, mas um Ganso que se machuca e fica meses (anos) sem jogar. Eu não podia ficar sem fazer uma comparação futebolística, é muito mais forte que eu.

Quatro anos e 732 maços de cigarro depois (cof, cof!) é possível dizer que amadureci sim. Afinal, meu cabelo estaria cereja se isso não tivesse acontecido. Nada contra quem pinta o cabelo de Cereja 666 (esse número da tinta é prova de que existe bom humor até em empresas de tinta para cabelo. O mundo não acabará em 2012, posso ficar tranquilo.), mas isso representava uma fase em que eu ainda começava a descobrir quem sou de verdade. Agora apenas faço ideia e o raciocínio permanece desde aquela “clássica” reflexão em um longínquo 2007. (Adorei chamar meu texto de clássico.) Continuo sendo um bostinha, mas ao menos tenho forma. Se há meia década atrás eu era uma diarreia de sentimentos hoje posso dizer que eu adquiri aquele aspecto de quem come Nutry e essas coisas com fibra, sabe? Sim, essa foi a pior analogia que já fiz na vida. Mas de tão válida, gostaria de compartilhar aqui algo que me fez sempre evoluir nos últimos anos.

Chega um momento da vida onde tudo parece dar errado. Apesar da base, daquilo que sempre estará lá existem pontos onde a coisa anda tão crítica que você começa a falar de deus (minúscula, e daí?) mais do que deveria. São os momentos onde você vai dormir e usar aquele instante antes do sono para refletir sobre o que anda fazendo errado, mas são tantas as coisas e só você percebe que mesmo que divida com a pessoa que mais confia ainda vai faltar alguma coisa. Pior! Quando tenta pensar sobre isso percebe que a situação anda mais complicada do que quando você olhava pro seu quarto aos 13, 14 anos de idade. Coloca a mão na cabeça, dá uma coçada, sobe a calça e pensa: “Ok, vou ver um filme.”. São problemas que existem só contigo, que ninguém entenderia porque nem você entende ao certo. Quando esses momentos chegam ao limite creio em uma filosofia infalível (pra mim): somos todos livros. Todos os livros têm tramas secundárias e todos os livros têm capítulos. É hora de trocar de capítulo. A trama principal de sua vida não vai se resolver no capítulo seguinte, a menos que você tenha seus bem vividos 75, 80 anos e já deu tudo certo ou bem errado. Aliás, sua vida só pode dar bem errado aos 80 anos caso você seja o chefe do FMI e resolva dar uma puladinha de cerca em NY sem fazer isso direito. Aí não tem jeito, amigo. Você se mostrou inteligente a vida inteira pra chegar no final e te falarem “Não, cara. Você é muito burro.”.

Portanto acredito na mudança de capítulo. Tudo aquilo que você pensa incansavelmente já “deu pra bola”, como dizia um chefe. É hora de pensar em outras coisas, definir outros objetivos, traçar outras estratégias e não precisa ser nenhum Drucker pra ter esse insight. Basta que se convença de que não há mais nada a ser feito. Reinvente-se! A sensação posso descrever: é como ficar vinte anos preso em uma cadeia e enfim receber suas roupas de volta, um sujeito de cara fechada abrir aquele portão que precisa de um pouco de lubrificação e você olhar pro mundo com um certo incômodo nos olhos mas sorrindo. Alívio!

Escrever me faz muito bem e voltar a fazer isso faz parte do meu novo capítulo. O que será que faz parte do seu?

Até mais.

Um comentário:

Anninha Peinhopf disse...

Muita gente, tenho certeza, lê isso aqui e se identifica, gosta de ler a frase em que fala sobre "virar a página" e de refletir rapidamente sobre as características da vida nos anos que passaram. Mas a tua reflexão é tão profunda que talvez nem dê pra notar o quanto. Então eu te desafio a vir aqui quando estivermos morando na nossa casa com móveis novos e apresentar pra todo mundo que se identificou contigo uns poucos (não precisa ser todos) resultados da tua busca. Se esquecer, faço questão de lembrar. Você é um quase homem capacitado pra servir de referência pra um monte de coisa, mas em relação à busca de vida eu não conheço ninguém melhor.

E é isso. Eu te amo!