sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Ciclo

Quando chegou em minha caixa de entrada a orientação e o tema da redação que deveria produzir em menos de 24 horas, cocei a cabeça e fui pegar um café. Então acendi um cigarro e pensei na palavra “capcioso” (não que eu tenha um “vernáculo assaz rebuscado”, mas eu acompanhava RockGol na MTV e os bordões do Marco Bianchi eram incrivelmente grudentos.). Aí me coloquei a pensar por 14 horas seguidas sobre as inúmeras razões que me colocaram aqui, inserido neste momento. Algumas eram prepotentes como: “Eu escrevo muito bem!”; outras ingênuas: “Mamãe disse que eu escrevo muito bem!”; e ainda as muito mentirosas: “Vou contar que ganhei um Gnu de Ouro, equivalente senegalês ao Leão de Cannes. Nunca vão descobrir!”.


Resolvi optar pela verdade e veio o insight: momentos únicos como este foram a verdadeira inspiração para a estrutura linear que vemos em quase todos os filmes. Uma boa história começa meio perdida, sem propósito, passa pela definição dos personagens, algo marcante acontece e o filme se desenrola com base nisso até o clímax. Depois disso, o que resta são alguns pingos nos “is” que traduzem uma situação eterna à partir do clímax e enfim, créditos. Dali pra frente a história torna-se comum novamente e desinteressante para o espectador. Esta redação, por exemplo, é o clímax (ou anticlímax) da minha vida. Por isso a tarefa de escrevê-la é tão desafiadora. Devo admitir que escrever com frio na barriga é tão confortável quanto viajar com cinco pessoas no banco de trás.


Reconhecida a peça pregada por meus avaliadores, fui dar uma lida em meu blog com a expectativa de ganhar um pouco de confiança. Afinal, eu gosto das coisas que escrevo mas foi melhor do que eu imaginava. Em maio de 2007 escrevi um texto em que eu refletia sobre uma citação do livro O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry (ou Le Petit Prince se você quiser dar uma sussurrada em francês e lembrar como soam bem as palavras nessa língua.). Era a seguinte:


-Tu não és um homem de verdade; Tu não passas de um cogumelo.


Eu dizia ali que era preciso reconhecer minha condição inferior para enfim saber como crescer. Hoje já não penso mais desta maneira. Ser cogumelo pro resto da vida é negócio. Virou minha máxima e até passou pela minha cabeça agora tatuar um discreto champignon atrás da orelha, ou um shiitake. Me colocar nessa posição de forma perpétua traz a garantia de que vou aprender por toda minha vida. Ouvir e aprender é algo que trago comigo desde sempre mas quando atingi a maioridade descobri que ser eclético é a chave para o profissional da área de comunicação. Em 2005, aos 18, resolvi que estaria aberto para qualquer tipo de discussão e qualquer forma de informação. Aliás, a Veja foi lançada quando a Editora Abril tinha 18 anos.


Creio que minha vida é um constante jogo de pinball onde a bolinha vai quicando pra lá e pra cá, somando pontos. Mas quando me ocorreu essa oportunidade na Editora Abril senti que há alguns anos minha vida tinha se transformado em um filme com estrutura linear. Uma série de eventos me colocaram frente à essa experiência maravilhosa, como se eu tivesse sido minuciosamente preparado através de minha carreira profissional e vida acadêmica. Insisti por pouquíssimo tempo como assistente de arte até entender que o que realmente queriam de mim eram textos. Logo percebi que escrevia com certa habilidade o bom publicitês e resolvi que por tempo indeterminado é isso que quero. É minha paixão, o que me inspira a respirar e se não foi até hoje minha maior fonte de renda, foi a de elogios.


Venho repetindo há cerca de dois meses que é um ciclo que finalmente se fecha. O primeiro lugar onde fui buscar uma oportunidade de emprego foi a Editora Abril. Naquela época, aquele cogumelozinho não sabia o quanto sua vida mudaria. Não fazia ideia da dimensão do mundo que encontrava-se à sua frente. Hoje ele já tem o mapa e agora é a hora de explorar. Não podia ter encontrado lugar melhor para aportar.



Em tempo: Me ligaram hoje por volta de 9h50 para dizer que eu havia sido "desligado do processo". A Abril não deu certo, mas o Sol nasceu do mesmo jeito. É um ciclo que não se fecha pois não é o momento.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Eu acredito

Entre nós existe uma raça não identificada talvez por se esconder muito bem ou até mesmo porque somos, na maioria das vezes, incapazes de observar pequenos detalhes que tornam nossos dias muito agradáveis. São tão insignificantes que não damos o menor crédito quando o momento se deixa acontecer e de uma hora para outra, apesar de ter sido tão essencial, ele já não está mais lá.

A demanda por acontecimentos únicos cresce junto com a esperança.. Quanto mais esperança resolvemos nutrir, mais esses pobres coitados têm que tirar sua mágica do bolso. É um trabalho integral, não remunerado, frustrante em várias ocasiões e mesmo assim você nunca verá um protesto na Avenida Paulista desta classe. Apesar de sua timidez, trata-se de um grupo muito bem organizado e dividido em subcategorias:

Plantadores de casualidades: São responsáveis por moedas esquecidas no chão, artigos escondidos dentro do seu armário e redescobertos anos depois, ganhadores de sorteios, supermercados 24 horas e lojas de conveniência no litoral. Conhecidos também pelo carinhoso apelido de “Ufa!”. A sensação de alívio é característica que os enche de orgulho diariamente.

Sopradores de ouvido: Já percebeu que em alguns momentos você simplesmente tem vontade de fazer algo inesperado? Acontece com frequência suficiente para que você assuma como característica, mas não se engane. Dizer à namorada “você é linda” no meio do ônibus lotado, dar uma “corridinha trotante” um quarteirão antes de chegar em casa de madrugada e esticar a noite na companhia de estranhos não é comportamento comum. Na maioria das vezes você é recompensado com um sorriso de terceiros ou o seu mesmo, satisfeito.

Encaminhadores: Sem enrolação ou muita explicação, esses aí te colocam no lugar certo, na hora certa. Processos seletivos, a balada inesquecível, cometas, quando você conheceu a pessoa amada, filmes no comecinho na TV a cabo, autógrafos de famosos, entre outros. Demoram a ser percebidos, mas com o prazo de uma semana sem dúvidas você olha pra trás e coça a cabeça. Não tem erro!

Reanimadores de esperança: Você conhece o fundo do poço? Não? Mas o fundo do balde com certeza. Essa subdivisão possui o trabalho mais nobre entre as citadas. Esses reúnem características das três anteriores porém sua tarefa é mais difícil: trazem luz quando acreditávamos que o mundo simplesmente não ia com a nossa cara. Um livro que deu aquela virada na sua vida, um homem ou uma mulher que te colocou no eixo novamente, um emprego que caiu do céu e te ajudou a cobrir a conta ou aquele insight maluco de madrugada que te fez escrever para um concurso. Deram origem à palavra “Fé” e atendem por Deus, Buda, Oxalá, Chuck Norris, Padim Ciço, etc.

Eu não acredito em coincidências, mas em pequenos momentos que mudam nossa vida pra sempre. Acredito que saber dar valor a essas particularidades acabam por dar mais sentido à vida e nos faz tentar de maneira mais efetiva traçar nosso real objetivo por aqui.

Eu acredito em fé e esperança também. E em gnomos.