Quando chegou em minha caixa de entrada a orientação e o tema da redação que deveria produzir em menos de 24 horas, cocei a cabeça e fui pegar um café. Então acendi um cigarro e pensei na palavra “capcioso” (não que eu tenha um “vernáculo assaz rebuscado”, mas eu acompanhava RockGol na MTV e os bordões do Marco Bianchi eram incrivelmente grudentos.). Aí me coloquei a pensar por 14 horas seguidas sobre as inúmeras razões que me colocaram aqui, inserido neste momento. Algumas eram prepotentes como: “Eu escrevo muito bem!”; outras ingênuas: “Mamãe disse que eu escrevo muito bem!”; e ainda as muito mentirosas: “Vou contar que ganhei um Gnu de Ouro, equivalente senegalês ao Leão de Cannes. Nunca vão descobrir!”.
Resolvi optar pela verdade e veio o insight: momentos únicos como este foram a verdadeira inspiração para a estrutura linear que vemos em quase todos os filmes. Uma boa história começa meio perdida, sem propósito, passa pela definição dos personagens, algo marcante acontece e o filme se desenrola com base nisso até o clímax. Depois disso, o que resta são alguns pingos nos “is” que traduzem uma situação eterna à partir do clímax e enfim, créditos. Dali pra frente a história torna-se comum novamente e desinteressante para o espectador. Esta redação, por exemplo, é o clímax (ou anticlímax) da minha vida. Por isso a tarefa de escrevê-la é tão desafiadora. Devo admitir que escrever com frio na barriga é tão confortável quanto viajar com cinco pessoas no banco de trás.
Reconhecida a peça pregada por meus avaliadores, fui dar uma lida em meu blog com a expectativa de ganhar um pouco de confiança. Afinal, eu gosto das coisas que escrevo mas foi melhor do que eu imaginava. Em maio de 2007 escrevi um texto em que eu refletia sobre uma citação do livro O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry (ou Le Petit Prince se você quiser dar uma sussurrada em francês e lembrar como soam bem as palavras nessa língua.). Era a seguinte:
-Tu não és um homem de verdade; Tu não passas de um cogumelo.
Eu dizia ali que era preciso reconhecer minha condição inferior para enfim saber como crescer. Hoje já não penso mais desta maneira. Ser cogumelo pro resto da vida é negócio. Virou minha máxima e até passou pela minha cabeça agora tatuar um discreto champignon atrás da orelha, ou um shiitake. Me colocar nessa posição de forma perpétua traz a garantia de que vou aprender por toda minha vida. Ouvir e aprender é algo que trago comigo desde sempre mas quando atingi a maioridade descobri que ser eclético é a chave para o profissional da área de comunicação. Em 2005, aos 18, resolvi que estaria aberto para qualquer tipo de discussão e qualquer forma de informação. Aliás, a Veja foi lançada quando a Editora Abril tinha 18 anos.
Creio que minha vida é um constante jogo de pinball onde a bolinha vai quicando pra lá e pra cá, somando pontos. Mas quando me ocorreu essa oportunidade na Editora Abril senti que há alguns anos minha vida tinha se transformado em um filme com estrutura linear. Uma série de eventos me colocaram frente à essa experiência maravilhosa, como se eu tivesse sido minuciosamente preparado através de minha carreira profissional e vida acadêmica. Insisti por pouquíssimo tempo como assistente de arte até entender que o que realmente queriam de mim eram textos. Logo percebi que escrevia com certa habilidade o bom publicitês e resolvi que por tempo indeterminado é isso que quero. É minha paixão, o que me inspira a respirar e se não foi até hoje minha maior fonte de renda, foi a de elogios.
Venho repetindo há cerca de dois meses que é um ciclo que finalmente se fecha. O primeiro lugar onde fui buscar uma oportunidade de emprego foi a Editora Abril. Naquela época, aquele cogumelozinho não sabia o quanto sua vida mudaria. Não fazia ideia da dimensão do mundo que encontrava-se à sua frente. Hoje ele já tem o mapa e agora é a hora de explorar. Não podia ter encontrado lugar melhor para aportar.
Em tempo: Me ligaram hoje por volta de 9h50 para dizer que eu havia sido "desligado do processo". A Abril não deu certo, mas o Sol nasceu do mesmo jeito. É um ciclo que não se fecha pois não é o momento.